De Ecclesiae Unitate
Caput 3
III. Cavenda sunt autem, fratres dilectissimi, non solum quae sunt aperta atque manifesta, sed et astutae fraudis subtilitate fallentia. Quid vero astutius, quidve subtilius, quam ut Christi adventu detectus ac prostratus inimicus, postquam lux Gentibus venit et sospitandis hominibus salutare lumen effulsit, ut surdi auditum gratiae spiritalis admitterent, aperirent ad Deum oculos suos caeci, infirmi aeterna sanitate revalescerent, claudi ad Ecclesiam currerent, muti claris vocibus et precibus orarent, videns ille idola derelicta et per nimium credentium populum sedes suas ac templa deserta, excogitaverit novam fraudem, ut sub ipso christiani nominis titulo fallat incautos? Haereses invenit et schismata, quibus subverteret fidem, veritatem corrumperet, scinderet unitatem. Quos detinere non potest in viae veteris caecitate, circumscribit et decipit novi itineris errore. Rapit de ipsa Ecclesia homines; et, dum sibi appropinquasse jam lumini atque evasisse saeculi noctem videntur, alias nescientibus tenebras rursus infundit, ut cum Evangelio Christi et cum observatione ejus et lege non stantes, Christianos se vocent, et ambulantes in tenebris habere se lumen existiment, blandiente adversario atque fallente, qui, secundum Apostoli vocem, transfigurat se velut angelum lucis (II Cor. XI, 14), et ministros suos subornat velut ministros justitiae, asserentes noctem pro die, interitum pro salute, desperationem sub obtentu spei, perfidiam sub praetextu fidei, antichristum sub vocabulo Christi; ut, dum verisimilia mentiuntur, veritatem subtilitate frustrentur. Hoc eo fit, fratres dilectissimi, dum ad veritatis originem non reditur, nec caput quaeritur, nec magistri coelestis doctrina servatur.
A Unidade da Igreja
Capítulo 3
Devemos, portanto, evitar, irmãos diletíssimos, não apenas o que é aberto e manifesto, mas também o que engana pela sutileza de uma astuta cilada. O que poderia ser mais astuto, ou o que seria mais sutil do que o inimigo, descoberto e subjugado pela vinda de Cristo? Depois que a luz chegou às nações e a candeia salutar brilhou para a salvação dos homens, para que os surdos recebessem a audição da graça espiritual, os cegos abrissem seus olhos para Deus, os fracos se recuperassem com a saúde eterna, os coxos corressem para a Igreja, os mudos orassem com vozes e súplicas nítidas, vendo os ídolos abandonados, seus nichos e, sobretudo, os templos desolados por causa da multidão muito numerosa de crentes, ele teria arquitetado uma nova cilada, a fim de enganar os incautos sob o próprio rótulo do nome cristão. Ele inventou heresias e cismas para subverter a fé, corromper a verdade e destruir a unidade. Aqueles a quem não pode manter na cegueira da via antiga, ele seduz e engana pelo erro de um novo caminho. Ele arrebata os homens da própria Igreja e, enquanto lhes parece que já se aproximaram da luz e evitaram as trevas do mundo, mergulha-os novamente em outra escuridão sem que percebam. De modo que, embora não se conformem com o evangelho de Cristo, nem com sua observância e lei, se chamam cristãos e, embora caminhem na escuridão, pensam ter luz, enquanto o adversário os enfeitiça e engana. Este, segundo a palavra do Apóstolo, se transfigura como anjo de luz (2Cor 11, 14), e disfarça seus ministros como ministros da justiça, que proclamam a noite em vez do dia, a destruição em vez da salvação, o desespero sob a aparência da esperança, a perfídia sob o pretexto da fé, o anticristo sob o nome de Cristo; de modo que, enquanto inventam coisas verossímeis, anulam a verdade com sua sutileza. Isso acontece, irmãos diletíssimos, enquanto não se volta à fonte da verdade, nem se busca a cabeça, nem se observa a doutrina do Mestre celestial.