De Ecclesiae Unitate
Caput 12
Nec se quidam vana interpretatione decipiant quod dixerit Dominus: «Ubicumque fuerint duo aut tres collecti in nomine meo, ego cum eis sum» (Matth. XVIII, 19, 20). Corruptores Evangelii atque interpretes falsi extrema ponunt et superiora praetereunt, partis memores, et partem subdole comprimentes; ut ipsi ab Ecclesia scissi sunt, ita capituli unius sententiam scindunt: Dominus enim, cum discipulis suis unanimitatem suaderet et pacem: Dico, inquit, vobis quoniam, si duobus ex vobis convenerit in terra, de omni re quacumque petieritis, continget vobis a Patre meo qui in coelis est. Ubicumque enim fuerint duo aut tres collecti in nomine meo, ego cum eis sum (Ibid.), ostendens non multitudini, sed unanimitati deprecantium plurimum tribui. Si duobus, inquit, ex vobis convenerit in terra; unanimitatem prius posuit, concordiam pacis ante praemisit, ut conveniat nobis fideliter et firmiter docuit. Quomodo autem potest ei cum aliquo convenire cui cum corpore ipsius Ecclesiae et cum universa fraternitate non convenit? quomodo possunt duo aut tres in nomine Christi colligi quos constat a Christo et ab ejus Evangelio separari? Non enim nos ab illis, sed illi a nobis recesserunt. Et cum haereses et schismata postmodum nata sint, dum conventicula sibi diversa constituunt, veritatis caput atque originem reliquerunt. Dominus autem de Ecclesia sua loquitur, et ad hos qui sunt in Ecclesia loquitur, ut si ipsi concordes fuerint, si, secundum quod mandavit et monuit, duo aut tres licet, collecti unanimiter oraverint, duo aut tres licet sint, impetrare possint de Dei majestate quod postulant. «Ubicumque fuerint duo aut tres collecti in nomine meo, ego», inquit, «cum eis sum», cum simplicibus scilicet atque pacatis, cum Deum timentibus et Dei praecepta servantibus. Cum his duobus vel tribus licet esse se dixit, quomodo et cum tribus pueris in camino ignis fuit (Dan. III), et quia in Deum simplices atque inter se unanimes permanebant, flammis ambientibus medios spiritu roris animavit. Quomodo Apostolis duobus in custodia clausis (Act. V), quia simplices, quia unanimes erant, ipse adfuit, ipse, resolutis carceris claustris, ut verbum quod fideliter praedicabant multitudini traderent, ad forum rursus imposuit. Quando ergo in praeceptis suis ponit et dicit: «Ubi fuerint duo aut tres collecti in nomine meo, ego cum eis sum», non homines ab Ecclesia dividit qui instituit et fecit Ecclesiam, sed exprobrans discordiam perfidis, et fidelibus pacem sua voce commendans, ostendit magis esse se cum duobus aut tribus unanimiter orantibus quam cum dissidentibus plurimis, plusque impetrari posse paucorum concordi prece quam discordiosa oratione multorum.
A Unidade da Igreja
Capítulo 12
E que alguns não se enganem com uma interpretação superficial, porque o Senhor disse: «Onde quer que estiverem dois ou três reunidos em meu nome, estou eu com eles» (Mt 18, 19-20). Corruptores e falsos intérpretes do Evangelho citam as últimas palavras e deixam de lado as precedentes, lembrando-se de uma parte e suprimindo astutamente a outra; assim como foram separados da Igreja, eles solapam o sentido de uma única seção. Pois o Senhor, depois de ter aconselhado a unanimidade e a paz a seus discípulos, disse: «Eu vos digo que, se houver acordo entre dois de vós na terra sobre qualquer coisa que pedirdes, isso vos acontecerá da parte de meu Pai que está nos céus. Pois onde quer que estiverem dois ou três reunidos em meu nome, estou eu com eles» (Ibid.), mostrando que muito é concedido, não à multidão, mas à unanimidade dos que suplicam. «Se entre dois de vós», diz ele, «houver acordo na terra»: em primeiro lugar dispôs a unanimidade, priorizou a concórdia da paz, ensinou fiel e firmemente que deve haver acordo entre nós. Mas como é possível para ele estar de acordo com alguém, para quem não há acordo com o corpo da própria Igreja e com toda a fraternidade? Como podem dois ou três que, é evidente, estão separados de Cristo e de seu Evangelho se reunirem em nome de Cristo? De fato, não fomos nós que nos afastamos deles, mas eles de nós. E desde que as heresias e os cismas surgiram mais tarde, enquanto constituem diversos conventículos para si, abandonaram a cabeça e a fonte da verdade. Mas o Senhor fala acerca de sua Igreja, e fala aos que estão na Igreja que, se estiverem concordes, se, conforme o que ordenou e aconselhou, é lícito dois ou três reunidos de comum acordo orarem, a despeito de serem dois ou três, podem obter da majestade de Deus o que desejam. «Onde quer que estiverem dois ou três reunidos em meu nome, estou eu», diz ele, «com eles», evidentemente, com os simples e pacíficos, com os que temem a Deus e guardam os preceitos de Deus. Com estes, a despeito de serem dois ou três, ele disse que estaria, como esteve com os três jovens na fornalha ardente e, porque permaneciam simples para com Deus e unânimes entre si, animou-os no meio das chamas que os cercavam com o sopro do orvalho (Dn 3, 49-50). Como, com os dois apóstolos encerrados na prisão (At 5, 19), porque eram simples, porque eram unânimes, ele mesmo esteve presente. Ele mesmo, depois que os ferrolhos do cárcere foram soltos, para que pudessem transmitir à multidão a palavra que fielmente pregavam, conduziu-os de novo à praça pública. Quando, por conseguinte, dispõe em seus preceitos e diz: «Onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, estou eu com eles», não separa os homens da Igreja aquele que instituiu e estabeleceu a Igreja, mas, exprobrando aos pérfidos sua discórdia e recomendando a paz aos fiéis por sua palavra, ele mostra que está mais com dois ou três que oram de comum acordo do que com muitos dissidentes, e que mais pode ser obtido com a prece concorde de poucos do que com a oração sediciosa de muitos.