De Ecclesiae Unitate

Caput 14

Tales etiamsi occisi in confessione nominis fuerint, macula ista nec sanguine abluitur: inexpiabilis et gravis culpa discordiae nec passione purgatur. Esse martyr non potest qui in Ecclesia non est: ad regnum pervenire non poterit qui eam quae regnatura est derelinquit. Pacem nobis Christus dedit, concordes atque unanimes esse praecepit, dilectionis et charitatis foedera incorrupta atque inviolata servari mandavit. Exhibere se non potest martyrem qui fraternam non tenuit charitatem. Docet hoc et contestatur Paulus apostolus dicens: «Et si habuero fidem ita ut montes transferam, charitatem autem non habeam, nihil sum. Et si in cibos pauperum distribuero omnia mea, et si tradidero corpus meum ut ardeam, charitatem autem non habeam, nihil proficio. Charitas magnanima est, charitas benigna est, charitas non aemulatur, non agit perperam, non inflatur, non irritatur, non cogitat malum, omnia diligit, omnia credit, omnia sperat, omnia sustinet. Charitas numquam excidit» (I Cor. XIII, 2, 5, 7, 11). «Numquam», inquit, «excidit charitas». Haec enim semper in regno erit, haec in aeternum fraternitatis sibi cohaerentis unitate durabit. Ad regnum coelorum non potest pervenire discordia; ad praemia Christi, qui dixit, «Hoc est mandatum meum, ut diligatis invicem, quemadmodum dilexi vos» (Joan. XV, 12), pertinere non poterit qui dilectionem Christi perfida dissensione violavit. Qui charitatem non habet, Deum non habet. Joannis beati apostoli vox est: «Deus», inquit, «dilectio est; et qui manet in dilectione, in Deo manet, et Deus in illo manet» (I Joan. IV, 16). Cum Deo manere non possunt qui esse in Ecclesia Dei unanimes noluerunt. Ardeant licet flammis et ignibus traditi vel objecti bestiis animas suas ponant, non erit illa fidei corona, sed poena perfidiae; nec religiosae virtutis exitus gloriosus, sed desperationis interitus. Occidi talis potest, coronari non potest. Sic se christianum esse profitetur quomodo et Christum diabolus saepe mentitur, ipso Domino praemonente et dicente: «Multi venient in nomine meo dicentes: Ego sum Christus, et multos fallent» (Marc. XIII, 6). Sicut ille Christus non est, quamvis fallat in nomine, ita nec christianus videri potest qui non permanet in Evangelii ejus et fidei veritate.

A Unidade da Igreja

Capítulo 14

Ainda que tais homens tenham sido mortos na confissão do Nome, nem por seu sangue essa mácula é lavada: nem sequer pelo sofrimento a inexpiável e pesada culpa da discórdia é purificada. Não pode ser mártir quem não está na Igreja: não poderá alcançar o Reino quem abandona aquela que há de reinar. Cristo nos deu a paz. Ele recomendou que fôssemos concordes e unânimes, ordenou que os vínculos do amor e da caridade fossem conservados incorruptos e inviolados. Não pode se apresentar como mártir quem não manteve a caridade fraterna. O Apóstolo Paulo ensina isso e declara, dizendo: «E se tiver fé, a ponto de transportar montanhas, mas não tiver caridade, nada sou. E se distribuir todos os meus bens para o sustento dos pobres, e se entregar meu corpo para ser queimado, mas não tiver caridade, isto nada me aproveita. A caridade é magnânima, a caridade é benigna, a caridade não é invejosa, não se porta inconvenientemente, não se incha de orgulho, não se irrita, não guarda rancor, tudo ama, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. A caridade nunca desvanece» (1Cor 13, 2.5.7.11). «Nunca», diz ele, «desvanece a caridade». Pois ela sempre estará no reino, ela subsistirá para sempre na unidade de uma fraternidade harmoniosa. A discórdia não pode alcançar o Reino dos céus; quem, por pérfida dissensão, violou o amor de Cristo não poderá chegar às recompensas de Cristo, que disse: «Este é o meu mandamento, que vos ameis uns aos outros, como eu vos amei» (Jo 15, 12). Quem não tem caridade, não tem Deus. Eis a voz do bem-aventurado Apóstolo João: «Deus é Amor; e quem permanece no amor, permanece em Deus e Deus permanece nele» (1Jo 4, 16). Não podem permanecer com Deus aqueles que não desejam ser unânimes na Igreja de Deus. Ainda que ardam nas chamas e, entregues ao fogo ou lançados às feras, deem suas vidas, não receberão a coroa da fé, mas o castigo da perfídia; nem o fim glorioso da virtude piedosa, mas a morte do desespero. Tal indivíduo pode ser morto, mas não pode ser coroado. Ele confessa ser cristão do mesmo modo que o diabo muitas vezes finge ser o Cristo, enquanto o próprio Senhor nos adverte e diz: «Muitos virão em meu nome, dizendo: ‘Eu sou o Cristo’, e enganarão a muitos» (Mc 13, 6). Como ele não é o Cristo, embora engane em seu nome, assim não pode parecer cristão aquele que não permanece na verdade de seu Evangelho e da fé.