De Ecclesiae Unitate

Caput 15

Nam et prophetare et daemonia excludere et virtutes magnas in terris facere sublimis utique et admirabilis res est, non tamen regnum coeleste consequitur quisquis in his omnibus invenitur, nisi recti et justi itineris observatione gradiatur. Denuntiat Dominus et dicit: «Multi mihi dicent in illo die: Domine, Domine, nonne in tuo nomine prophetavimus, et in tuo nomine daemonia exclusimus, et in nomine tuo virtutes magnas fecimus? Et tunc dicam illis: Numquam vos cognovi; recedite a me, qui operamini iniquitatem» (Matth, VII, 22, 23). Justitia opus est ut promereri quis possit Deum judicem: praeceptis ejus et monitis obtemperandum est, ut accipiant merita nostra mercedem. Dominus in Evangelio suo, cum spei et fidei nostrae viam compendio breviante dirigeret: «Dominus Deus tuus», inquit, «Deus unus est»; et: «Diliges Dominum Deum tuum de toto corde tuo, et de tota anima tua, et de tota virtute tua. Hoc est primum mandatum; et secundum simile huic: Diliges proximum tuum tamquam te. In his duobus praeceptis tota lex pendet et prophetae» (Marc. XII, 29-31). Unitatem simul et dilectionem magisterio suo docuit, prophetas omnes et legem praeceptis duobus inclusit. Quam vero unitatem servat, quam dilectionem custodit aut cogitat, qui, discordiae furore vesanus, Ecclesiam scindit, fidem destruit, pacem turbat, charitatem dissipat, sacramentum profanat?

A Unidade da Igreja

Capítulo 15

De fato, profetizar, expulsar demônios, realizar grandes prodígios na terra, sem dúvida, é uma coisa sublime e admirável, contudo, nem todo aquele que se encontra em todas essas coisas alcança o Reino do céu, a menos que ande na observância do caminho reto e justo. O Senhor denuncia e diz: «Muitos me dirão naquele dia: ‘Senhor, Senhor, não foi em teu nome que profetizamos e em teu nome que expulsamos demônios e em teu nome que fizemos muitos milagres?’ Então eu lhes declararei: ‘Nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade’» (Mt 7, 22-23). A justiça é necessária para alguém poder se tornar digno de Deus, o Juiz; devemos obedecer a seus preceitos e advertências, para que nossos méritos recebam a recompensa. O Senhor, em seu Evangelho, quando dirigia o caminho da nossa esperança e da nossa fé em um sucinto compêndio, disse: «O Senhor teu Deus é o único Deus; e: Amarás o Senhor teu Deus de todo coração, de toda tua alma, e de toda tua força. Este é o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a esse, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Nesses dois mandamentos se baseiam toda a Lei e os Profetas» (Mt 22, 37-40; Mc 12, 29-31). Com sua autoridade, ele ensinou, ao mesmo tempo, a unidade e o amor, e encerrou todos os profetas e a lei em dois preceitos. Mas, de fato, que unidade preserva, que amor conserva ou considera, aquele que, louco pelo furor da discórdia, divide a Igreja, destrói a fé, perturba a paz, dissipa a caridade, profana o sacramento?